quarta-feira, 6 de junho de 2012

Entrevista com o Professor Selmo Bastos




Entrevista 03-06-2012.





" Olá David,

Muito obrigado você me fez voltar as coisas boas de minha vida, e me fez lembrar quem eu realmente sou.
Abraços,

Selmo Bastos. "


1. Você é um apaixonado por Xadrez. Quando começou? Com quem aprendeu?

R. David, Comecei com 16 para 17 anos e tive o primeiro contato com o Xadrez em Mesquita, um senhor com longas barbas jogava Xadrez próximo a sua casa e um dia fiquei observando, apesar de não entender nada do que ele fazia achei interessante sua concentração e o gosto por um estranho e enigmático jogo. Por meu interesse em observar ele me perguntou: Você quer aprender a jogar? Disse sim por não ter algo mais interessante a fazer. Aprendi a movimentação e em pouco tempo já o vencia e com isto não quis mais jogar comigo. Jogando futebol com meu amigo Josimar ele me informou que jogava Xadrez em um clube em Nova Iguaçu, este clube era o IBC. O IBC realizou um torneio no Tenis Clube de Mesquita e lá conquistei meu primeiro troféu de Melhor não federado! Percebi naquele momento que tinha condições de aprender aquele jogo. Vim morar no centro do Rio para fazer faculdade e encontrei o Clube de Xadrez Guanabara, lá percebi que não jogava nada, pois lá se encontrava a “nata” do Xadrez, todos eram bons, muitos campeões. Apesar de ser espancado no Guanabara eu era o melhor em muitos lugares que frequentava, foi quando tive contato com o Mestre AI Silvio Luiz Teixeira Mendes (Vice-Campeão Brasileiro em 1958) e este ensinava jogar Xadrez de verdade! Fez-me compreender que o jogo se aprende pelos finais, meio de jogo e por último a Abertura. Parece estranho! Mas tem sentido, pois se não sabes jogar com um Rei e um peão contra Rei, como vai saber jogar com 32 peças? 

2. Já o vi jogar torneios e dar aulas no mesmo mês, por exemplo, ser professor atrapalha seu desempenho como jogador? Ou o prazer pode prevalecer nas duas funções?


R: Cada ser humano tem uma capacidade individual diferenciada, no meu caso tenho dificuldade de fazer bem duas coisas, ou treino para jogar ou exercito a arte de ensinar. Admiro aqueles que fazem bem as duas funções, falando só de mim, atrapalha um pouco.

3. Quais foram seus melhores resultados pessoais como jogador?

R: Não foram muito expressivos, posso citar o Campeão Estadual em 1999, Campeão Carioca em 2000, Campeão Master em 2001 e Bi Campeão Carioca em 2001. Ah! O Regional de Vassouras com direito a resenha do Marcelo foi genial!!
(23/10 (17h33) - Segue a resenha do relatório de Marcelo Einhorn:

" Na histórica Vassouras, foi realizado no último final de semana o III Regional, VII etapa do Circuito de Regionais 2003. A prova teve lugar no Colégio de Aplicação Sul Fluminense, na região central da cidade, cenário de várias produções globais. Participaram 45 jogadores, sendo oito detentores de rating internacional.


O campeão foi Selmo Bastos Pinto, com 5 dos 6 pontos em disputa (partidas de 1 hora). Com a mesma pontuação, e pior desempate, seu colega de Club Municipal (CMUN) do Rio de Janeiro, Arthur Santa Cruz.

Cinco jogadores dividiram a terceira posição, com 4,5 pontos: o jovem campeão estadual absoluto Diego Rafael Di Berardino (prestes a iniciar a disputa dos Jogos Abertos de Santa Catarina, em Blumenau), os tijucanos Vinícius Vilella de Almeida Rego, MF Ricardo da Silva Teixeira (pré-ranqueado número 1) e Pedro Henrique de Paiva, campeão estadual sub16. Também com 4,5 pontos, Alexandre Ferreira Campos (Iguaçu Basquete Clube).

Também se classificaram para a final do Campeonato do Interior ou Carioca Absoluto (conforme a filiação): Joaquim de Deus Filho (SP, encerrando o grupo que dividiu os R$1.000,00 da premiação), José Luis Chauca Murga (CMUN), Paolo Ghiu Moraes Rego da Silva (Clube dos Funcionários da Companhia Siderúrgica Nacional), Rodolpho Teixeira Nahon Marinho (Tijuca Tênis Clube), Marcus Vinicius Nora de Souza (CMUN), Milton Kasuo Okamura (Núcleo de Xadrez de Niterói), todos com 4 pontos, e André Luís Villares Monteiro (Associação de Xadrez de Miguel Pereira), Wallace Fernandes Machado (Clube de Xadrez Grande Roque), Sérgio Luís Badolati Rodrigues (AXAMP), Daniel Abrahão Bernardo (Clube de Xadrez de Vassouras - CXV), Obaldine Nunes Linhares Filho (Hebraica - Rio) e Américo dos Santos Gomes.
A arbitragem foi de Marcelo Einhorn, e a direção de Sílvio Jorge do Rosário Henriques, presidente do CXV). "


4. Muitos sabem que você é formador de talentos. Quando seus alunos vencem torneios (recentemente Gustavo Leoni foi Campeão Estadual Classe C) como você se sente?


R: Sinto que estou contribuindo para o esporte, trazendo para evidência pessoas inteligentes que se apaixonaram pelo xadrez e tiveram sucesso. Não acho que formo talentos, só mostro a beleza do esporte, esta paixão faz com que o aluno desenvolva um trabalho individual e tenha bons resultados.

5. Quais foram seus alunos que mais se destacaram? Se quiser escrever trinta nomes, fique a vontade.


R: Meus primeiros que surpreenderam foram Vinícius e Thomaz, eram gêmeos e começaram a ter aula de Xadrez em 1998 aos 07 anos de idade. Eram inteligentes e seriam grandes jogadores se continuassem, mesmo assim Vinícius me emocionou quando me deu de presente, em um Campeonato Popular, um livro com as melhores redações dos alunos do seu Colégio e entre estas estava a dele que foi votada a melhor de todas e o tema era “Vontade de Vencer”. Vinícius e Thomaz não tiveram resultados expressivos no Xadrez, mas foram Campeões fora do tabuleiro! Isto para mim também é muito importante. 
Vou citar só alguns que me vem o mente no momento, peço desculpas aos não citados, Raphael Bevilaqua, Bernardo, Rafael Quintanilha, Gabriel Gomes, Arthur Santa Cruz, Guilherme Portugal, David Yunes, Amsatou Diop, André Rotstein, Marcus Vinícius, Thiago Barroso e recentemente Gustavo Leoni. Estes Atletas desenvolveram rápido seu potencial, tiveram títulos brasileiros, Estaduais melhores tabuleiros ou ganharam algum Campeonato Individual.  

6. Como é seu trabalho no Club Municipal? O Funcionamento do clube é organizado, e às segundas é realizado o torneio Interno. Quanto tempo faz que esse importante torneio surgiu? 
É agradável trabalhar em um ambiente como este?

R: Sou um operário do Xadrez, alguém que trabalha em prol da arte valorizando acima de tudo o ser humano. Sou um Técnico que procura ver as dificuldades dentro e fora do tabuleiro dos Atletas, sou um Técnico que tem paixão no que faz, nunca deixou de sonhar. Avô de um dos meus alunos me disse uma vez:
 -Você é um Idealista! 
Ao pensar nos meus atos percebo que ela tem razão, procuro nas coisas ver algo transcendental tal qual o filósofo prussiano Kant.
É assim que trabalho até hoje no Club Municipal, e não sei precisar quando começou este formato nos Internos e é agradável trabalhar sim.

7. Hoje vemos o Xadrez crescer nas escolas. Você acha que há um caminho para difundir esse esporte o mais rápido possível? Na mídia por exemplo? 

R: Claro que sim! Só temos que deixar de ser amador e ser mais profissional que naturalmente o Xadrez terá visibilidade.


8. Qual é seu jogador preferido, e porque?

R: José Raúl Capablanca. Foi perfeito! Sabia viver e jogava Xadrez com muito talento e prazer.

9. Cite dois livros que você mais se identificou.
.
R: Sem duvidas foram:  “Partidas Selecionadas de Smyslov” e “Entrenamiento de Elite – Mark Dvoretsky e Artur Yusupov”.


10. Sabemos que você é um ótimo finalista, até que ponto se torna importante o aprendizado dos finais? Nos explique melhor - é mais interesse do que o estudo de aberturas ou tática?


R: Experimente  competir em uma corrida onde você não saiba aonde vai ser o final, entenderá porque devemos aprender primeiro o objetivo do que estamos fazendo e onde queremos chegar.


Valeu mestre! Obrigado pela entrevista. " Somos todos uma família "


6 comentários:

  1. Bela entrevista! David e Selmo, obrigado pela citação. Bons tempos quie eu fazia estas resenhas...

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  2. Adorei a analogia usada como argumento para estudar finais! Parabéns, mestre. Ótima entrevista!
    Leo Mano - RJ

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  3. Fui aluno do Selmo e penso em um dia voltar a sê-lo. Não fui dos seus alunos mais brilhantes, mas graças a suas aulas e as ministradas pelo Antônio Campos ganhei o Vice-Campeonato Estadual Master 2006 na frente de dez jogadores, incluindo o Marcelo Einhorn, Fernando Madeu, Nei Jorge, Leonardo Mano, etc. Tarcísio Dantas Frota Leite.

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  4. Ótima entrevista....... Parabéns Yunes....

    Boa sorte ... abçs ...

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  5. Bom dia! Sou um admirador de xadrez e, por pouco, nao fui aluno de Selmo Bastos em 1995 quando ele estava em um bar enfrente ao jornal O DIA e tive o prazer em conhecê-lo. Infelizmente a turma não foi formado por falta de quórum.
    Então, o que eu estava querendo para homenagear o Mestre Selmo?
    O PGN de uma partida dele considerada a imortal de Selmo Bastos. Tenho amigo youtuber que poderá fazer a análise, comentar e mostrar que no Rio de Janeiro nasceu essa lenda.
    Topam a experiência?

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